O evento de 1922
A Semana de Arte Moderna ocorrida em 1922 foi um evento artístico multicultural. É considerado um marco de rompimento com a arte clássica para o Modernismo Brasileiro e influenciou os artistas que o sucederam. Seus participantes estavam insatisfeitos com a arte acadêmica que era ensinada na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e acreditavam que a arte brasileira deveria ser mais moderna, original e brasileira.
Teatro Municipal de São Paulo na década de 20 - durante a realização do evento.
Foi a primeira grande exposição de arte no Brasil, com a participação de dezenas de artistas, entre poetas, escritores e músicos. O evento é considerado uma das maiores manifestações culturais do Brasil.
Apesar de ser considerado um marco de renovação na Arte Brasileira a Semana de 1922 não foi o início do Modernismo no Brasil. Tanto no campo da literatura, quanto nas artes plásticas já havia artistas modernistas no Brasil.
Anita Malfatti, por exemplo, fez sua polêmica exposicação em 1917, apresentando quadros expressionistas com forte influência do expressionismo alemão. Manuel Bandeira publicou seu livro "Carnaval" em 1919, incluindo seu poema "Os Sapos", que chocaram a burguesia paulista durante sua recitação no saguão do Teatro Municipal durante o evento de 1922.
Anita Malfatti - Artista percussora do movimento modernista brasileiro e participante da Semana de 22
Local, data e duração da Semana de 22
A Semana de Arte Moderna ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, durante os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922. O Teatro Municipal fica no centro da cidade de São Paulo, na praça atualmente chamada de Ramos de Azevedo. Apesar de ser conhecido como "Semana" o evento durou apenas 3 dias, que foram os dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. O evento incluiu concertos, palestras, declamações, exposições de gravuras e telas, além de arquitetura. Cada dia do evento focou em uma ou duas manifestações artísticas.
Catálogo da Exposição de 1922 - por Di Cavalcanti
- 1º Dia: O dia 13 de fevereiro de 1922 foi a abertura da Semana de Arte Moderna. Foi o dia das pinturas e esculturas no saguão do Teatro Municipal de São Paulo. As artes plásticas provocaram curiosidade e ao mesmo tempo um certo repúdio do público. Neste dia ocorreu também a conferência do escritor Graça Aranha, denominada “A emoção estética da Arte Moderna”. Apresentações musicais também sucederam.
Dentre as pinturas apresentadas no saguão, um dos destaques foi o quadro A estudante russa, pintado por Anita Malfatti. Este óleo sobre tela foi pintado em 1915, apresenta estilo impressionista e já havia sido apresentado na exposição individual da artista em 1917.
A primeira noite foi bastante concorrida e lotou o teatro Municipal.
Convite da Semana de 1922 - elaborado pelo artista Di Cavalcanti
- 2º Dia: O dia 15 de fevereiro, o segundo dia do evento, foi marcado pela apresentação musical de Guiomar Novaes e pela palestra de Menotti del Picchia sobre a arte estética. Na ocasião, Menotti apresentou os escritores dos novos tempos que foram recebidos pelo público com aplausos e vaias. Neste mesmo dia, 15 de fevereiro de 1922, o evento terminou com gritaria. Quando Ronald de Carvalho declamou o poema “Os Sapos” de Manuel Bandeira, o público fez coro para atrapalhar. O poema fazia crítica ao Parnasianismo e às suas regras para fazer poemas.
Os poetas modernistas acreditavam que o mundo estava mudando tão rapidamente que estruturas tradicionais como as utilizadas pelos poetas parnasianos não faziam mais sentido. Por isso, os modernistas reagiram se afastaram de suas formas estruturadas, esquemas rígidos de rimas e linguagem cuidadosamente escolhida. Os modernistas procuraram facilitar a relação das pessoas com os poemas.
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
- 3º Dia: No terceiro dia do evento, houve uma audiência menor. Naquela noite, houve uma apresentação musical do compositor brasileiro Villa-Lobos. Ele tocou com a participação de outros músicos, e eles tocaram uma variedade de instrumentos. Embora os ânimos estivessem mais calmos naquela noite, o público zombou de Villa-Lobos quando ele subiu ao palco com um pé em um sapato e um pé descalço. O público achou que esta era uma escolha estranha e desrespeitosa. Mais tarde, descobriu-se que ele tinha um calo inflamado no pé, não uma escolha de performance.
O artista já havia se apresentado nas noites anteriores, mas guardou seu trabalho mais especial para a noite de encerramento.
A motivação da Semana de 22
Os artistas foram embalados pela comemoração do centenário da independência do Brasil. E neste clima buscavam uma arte que representasse a legitima arte nacional. A data era simbólica, representando a "segunda" independência do país, mas desta vez no sentido artístico. O principal objetivo dos Artistas Modernistas, durante a realização da Semana de 22, foi também propor uma renovação estética, em parte influenciada pela vanguarda européia.
A estudante russa - obra de Anita Malfatti apresentado na Semana de Arte Moderna.
Principais características da Semana de Arte Moderna
As principais características da foram valorizar a identidade e cultura nacional, utilização da estética cubista, expressionista e surrealista, crítica ao conservadorismo, liberdade e autonomia de criação e expressão.
Principais Artistas Participantes
Arquitetura
- Moya e
- Przymbel
Pintura, Gravuras
- Anita Malfatti
- Zina Aita
- Lasar Segall
- Di Cavalcanti
- Vicente do Rego Monteiro
Música
- Villa lobos
- Guiomar Novaes
Literatura
- Oswald de Andrade
- Mário de Andrade
- Manuel Bandeira
Quem patrocinou/financiou a Semana de Arte Moderna?
A elite de São Paulo, que teve um papel fundamental na organização do evento, estava interessada em transformar São Paulo em um ponto de referência na criação cultural. Na época, no auge da oligarquia que se desenvolveu durante a época da República Velha, os plantadores de café de São Paulo estavam interessados em tirar a cidade de sua mediocridade e transformá-la em uma próspera capital com uma comunidade artística tão vibrante quanto a do Rio de Janeiro. Além disso, era comum que os artistas do Rio de Janeiro fossem um pouco conservadores - suas obras intimamente ligadas à história colonial e às técnicas de pintura mais tradicionais - para que os modernistas de São Paulo pudessem se destacar de seus homólogos mais tradicionais por serem mais progressistas e inovadores.
Assim, a Semana de Arte Moderna foi em grande parte financiada pela elite cafeeira paulista - que assumiu a liderança na organização do evento - e desfrutou de uma projeção nacional.
Contexto histórico da Semana de Arte Moderna
A Semana de 22 aconteceu em um cenário cheio de tensões políticas, sociais e econômicas, durante o período da República Velha, que foi controlada pelas oligarquias do café e pela política que ficou conhecida como Café com Leite.
Ao mesmo tempo, as pessoas ricas que podiam estudar na Europa estavam fazendo exatamente isso. Oswald de Andrade e Anita Malfatti eram dois dos artistas brasileiros que foram à Europa e trouxeram uma nova idéia do que era arte, razão pela qual organizaram o evento.
Em termos de contexto histórico devemos lembrar também que havia no mundo uma necessidade de renovação cultural em parte propiciada pelo final da Primeira Guerra Mundial e pelo fim da pandemia da Gripe Espanhola (1918-1919).
Modernismo
O modernismo é um movimento artístico que começou no início dos anos 1900. Os modernistas queriam fazer obras de arte que se diferenciassem das do passado. Eles rejeitaram formas tradicionais, tais como pintura, escultura e literatura. Eles acreditavam que a tecnologia estava melhorando rapidamente e que as pessoas letradas tinham acesso a novas idéias, então eles usavam seus conhecimentos para mudar sua cultura.
Com a invenção e popularização das máquinas fotográficas, no final do século XIX, os artistas contemporâneos começaram a experimentar um novo estilo de pintura a fim de refletir as transformações que aconteciam ao seu redor. Eles adotaram um estilo de composição projetado para retratar a natureza fugaz e fragmentada da vida moderna.
Os artistas modernos experimentaram novos estilos artísticos - incluindo o cubismo e a colagem - que inspiraram seu trabalho. Eventualmente, eles formularam uma nova maneira de olhar o mundo. Os artistas acreditavam que formas tradicionais de arte, design, literatura e música estavam ultrapassadas. Eles queriam criar uma nova cultura que transformasse e substituísse a antiga.
As três fases de Modernismo no Brasil
A primeira fase
O termo "Fase Heróica" refere-se a um movimento de renovação estética que começou em 1922, com a Semana de Arte Moderna. Esta fase é pautada pelo radicalismo e escândalos
Com a vanguarda européia servindo de inspiração, uma nova geração de artistas começou a se formar, em grande parte vindos da Europa. Eles logo começaram a formar grupos modernistas importantes como “O Movimento Antropófago (1928-1929)” e o “Manifesto Regionalista (1926)”.
Entre os artistas que se destacaram nesta primeira fase estão: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, e Alcântara Machado. A primeira fase do Modernismo durou cerca de oito anos, indo de 1922 a 1930.
A segunda fase
A segunda fase do modernismo brasileiro também é conhecida como a fase de consolidação e possui ênfase na literatura. Os trabalhos realizados durante esta fase refletem o interesse por temas nacionais e regionais, e mostram sinais de maturidade.
Entre os escritores desta fase destacam-se: Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Raquel de Queiroz, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes e Érico Veríssimo. Nas artes plásticas, Alfredo Volpi foi um dos principais nome da pintura brasileira nesta segunda fase do modernismo.
Esta segunda fase do Modernismo durou quinze anos, indo de 1930 a 1945.
A terceira fase
As principais características deste período são a predominância e a diversidade da prosa (íntima, regionalista, urbana, etc.). Essa fase traz a oposição ao radicalismo. Um destaque foi a formação do grupo "Geração de 45" - que tomou seu nome do ano em que foi formada (1945), tentou produzir uma poesia mais neutra com tons sérios - chamados de neoparnasianos-rejeitados pelos modernistas.
Os principais escritores desta fase são Clarice Linspector, Ariano Suassuna e Guimarães Rosa.
Há muito debate entre os estudiosos sobre o início e o fim deste período, que alguns chamam de "Pós-Modernismo". Outros dizem que terminou nos anos 80, e outros ainda afirmam que está em curso.
Influência do Modernismo nos dias atuais
A Semana de Arte Moderna deixou uma influência duradoura na arte e cultura brasileiras. Por exemplo, o Tropicalismo está diretamente relacionado com aquela revolução artística. A Bossa Nova, um importante movimento musical dos anos 50, também foi grandemente inspirado pelo modernismo. O Manguebeat, com suas influências da cultura regional de Pernambuco, também assemelha-se com a fase heróica do modernismo e sua busca pela renovação estética.
Curiosidades sobre a Semana de Arte Moderna
Tarsila do Amaral não participou da Semana de Arte Moderna pois estava em Paris durante o evento. Sua amiga, Anita Malfatti, a manteve informada sobre as manifestações artísticas ocorridas.
Trem - Tarsila do Amaral
Bonus: Semana de Arte Moderna como trabalhar na Educação infantil e fundamental
Para trabalhar as questões estéticas da Arte Brasileira durante a Semana de 22 tanto nas Artes Plásticas (Pintura, Gravura, Escultura), Arquitetura, Literatura e Música recomendamos o livro Colorindo a Semana de 22.
Colorindo a Semana de 22 é um livro de atividades para crianças, que irá desenvolver habilidades artísticas ao mesmo tempo em que são apresentadas aos principais modernistas e à historia da Semana de Arte Moderna de 1922.